Utramig realiza formatura de cursos técnicos em penitenciária
Detentos se formaram em Informática e Segurança do Trabalho. Cursos são fruto da parceria entre a Utramig, MRV Engenharia e empresa responsável pelo Complexo Penitenciário Público Privado
Oportunidades, vida nova, sonhos, realizações, acreditar. Essas foram as palavras que mais ecoaram na formatura dos cursos técnicos de Informática e de Segurança do Trabalho no Complexo Penitenciário Público Privado, em Ribeirão das Neves. Os formandos são detentos que cumprem penas em regime fechado no local.
Os cursos foram desenvolvidos pela Diretoria de Ensino a Distância da Utramig, e concretizados a partir de convênio com a MRV Engenharia e a Gestores Prisionais Associados (GPA), responsável pelo complexo. A iniciativa, pioneira em presídios brasileiros, segue as diretrizes do Governo de Minas Gerais de atendimento às pessoas em situação de risco e vulnerabilidade e deve servir de modelo para outros Estados.
“Nós estamos fazendo literalmente o que governo orientou: levar políticas sociais àquelas pessoas que ainda não tiveram oportunidade”, declarou a presidente da Utramig, Vera Victer. Ela lembrou aos formandos que eles fazem parte de 1% da população carcerária do país que tiveram oportunidade de realizar um curso técnico, sendo este o primeiro curso técnico a distância.
A presidente da Utramig ressaltou ainda a importância da formação profissional para a reinserção social dos detentos. “Estes cursos trazem para vocês uma identidade profissional. Depois de atravessar esta ponte para o mundo externo, vocês vão poder se apresentar à sociedade com dignidade e com uma identidade profissional. Vocês podem dizer ‘eu sou Técnico de Informática, eu sou técnico em segurança do trabalho’”, acrescentando que “as pessoas vêem diferente aqueles que se esforçam, que se dispõem a adquirir o conhecimento e a fazer dele uma ferramenta para uma vida melhor”.
Para o secretário de estado adjunto de Administração Prisional, Marcelo José Gonçalves da Costa, o fundamental para a ressocialização dos presos é oferecer oportunidades. “Quando se forma uma turma como esta, você está tendo êxito em uma política pública. A sensação é de muito orgulho, satisfação, mas também de muita vontade de continuar fazendo”. Ele acredita que o resultado desta ação impulsiona a realizar outras. “Para fazer mais, o primeiro caminho é vontade. Depois, parceiros como MRV Engenharia, a Utramig e a GPA, para mostrarem que é possível também”, afirmou.
Segundo o Diretor Instituto MRV, Raphael Rocha Lafetá, participar desta parceria “é realizar uma ação efetiva na transformação destas pessoas pela educação”. Ele relata que é emocionante ver o resultado do investimento. “Satisfeitos demais pela formatura deles. E torcendo para que eles possam enxergar isso como uma grande oportunidade de mudança na vida. Que seja um marco para seguirem um caminho diferente”, declarou.
Lafetá acredita que o preconceito é ainda um problema sério em nossa sociedade. Para ele, é necessário o engajamento de empresários e da sociedade civil para conseguir a transformação social deste país. “Não tem como ficar fora disso. Se deixarmos apenas como responsabilidade do poder público, não vamos conseguir transformar este país. As pessoas têm que se mobilizar e as empresas tem uma função importantíssima, pois elas oferecem emprego”.
Oportunidade de uma nova vida
“Não importa quão estreito seja o portão, quão repleta de castigos seja a sentença, o que importa agora é que podemos ser vencedores”, declarou em seu discurso de agradecimento o formando Igor Miron da Costa, sob o olhar emocionado de sua mãe Vera Lúcia Costa Silva. Ele fez questão de agradecer o apoio dos familiares “que, independente da dificuldades, jamais nos abandonaram” e aos professores do curso.
Para Vera Lúcia, a formatura do filho é um momento muito especial. “Ainda não chorei nem sei porque”. Ela conta com orgulho que o filho já fez diversos cursos de capacitação na penitenciária e está buscando uma alternativa para quando estiver em liberdade. “Quando sair, eu tenho certeza, ele terá uma nova vida. Esta oportunidade de estudar é muito importante para ele e para a família toda”, disse com lágrimas nos olhos.
Patrícia Fernanda de Azevedo também não disfarçava o orgulho pela formatura do irmão Leonardo de Azevedo. “É gratificante, pois a gente vê que a sociedade está oferecendo uma oportunidade de crescer, de ser alguém na vida”. Ela conta que temia muito, pois “geralmente, falam que quem vai pra cadeia sai pior do que entrou. Ver ele buscando um caminho diferente é muito importante pra gente”, comemorou.
Uma experiência diferente
“Foi uma experiência profissional cheia de desafios”, contou a pedagoga Luciana Minelli, servidora da Utramig responsável pelos cursos. Ela relata que os cursos, por serem ofertados dentro do presídio, tiveram algumas ressalvas. “Os alunos não puderam ter acesso a vídeos, a chat e algumas bibliografias eram bloqueadas. E essas ferramentas deixam o ensino a distância mais atrativo e dinâmico. Para que os alunos não ficassem desmotivados, os encontros presenciais, que aconteciam de 15 em 15 dias, foram didaticamente preparados com vídeos, debates, redações, arguições”, destacou.
Luciana diz que seus familiares ficaram apreensivos ao saber que ela ia ministrar aulas em um presídio, mas que ela enfrentou nenhum problema. “Fiquei impressionada com a organização, limpeza e segurança do presídio”, enfatizou. Para ela, é motivo de orgulho e alegria “ter contribuído na ressocialização e na educação profissional desses alunos”.