Alunos da Utramig se destacam no cenário de cultura de rua



Curso de agente cultural, realizado em parceria com o Observatório da Juventude, impulsiona carreiras de jovens artistas

“Pra mim foi bem impactante, digo até surtante pois os temas sociais pesados que foram abordados me davam a sensação de estar sendo estudada pelos meus próprios colegas de sala e aquilo foi dando gatilhos de vivências da minha infância e de trabalhar diretamente na rua. Veio de forma concreta na minha vida e pretendo agora lançar meus próprios projetos, o que antes chamava de ‘idéias bobas’, que ia anotando de maneira avulsa, sem dar muita importância”. A afirmação é de Débora Alves, jovem moradora de periferia, que se formou como Agente Cultural, em curso oferecido pela Utramig, em parceria com o Observatório da Juventude da UFMG.

Débora, ou Debs Sher, como é conhecida na cultura Hip Hop, se prepara para participar do Festival Mulheres do Mundo que acontece no Rio de Janeiro, de 16 a 18 de novembro. Realizado pela primeira vez em Londres, em 2010, o evento tem por objetivo debater sobre o papel das mulheres na sociedade, celebrar suas conquistas e criar um espaço de escuta e de acolhimento.

“Poder participar pela primeira vez de um evento de tamanha grandeza é muito importante para mim. Vou representando não só uma mina, mas uma mina que fez seu corre vindo da rua, de favela, mãe e sapatão. Com todo esses recortes de exclusão social e ainda assim poder ir a este evento, que acontece pela primeira vez na América Latina. Fui selecionada para estar lá com outras mulheres de grande representatividade e vou apresentar meus projetos para 2019 e trocar saberes de vivências e experiências do empreender com base na sobrevivência”, explica Debs. Nas favelas, “fazer um corre” é pedir ajuda, buscar parceria, criar soluções.

Mas este não é o uníco projeto da artista envolvida com a cultura de rua desde os 13 anos. “A vivência nas aulas me motivou a me inscrever não só no FESTIVAL WOWRio, mas também no Corre Criativo da FA.VELA, na qual também fui selecionada e agora estou vivenciando os estudos de aceleração de negócios de base faveladas”.

O poeta, rapper, slammaster e ativista do Fórum das Juventudes da Grande BH, Bim Oyoko foi também um dos 20 jovens formados no curso de Agente Cultural. “O curso foi de muita importância para o meu crescimento curricular e profissional. Tive acesso a informações e materiais que me proporcionam não só um novo olhar sobre cultura como melhor preparação para editais e captação de recursos para os projetos que já desenvolvemos”, explica.

 Bim Oyoko é o nome artístico e político de Fabrício Tadeu Leite e foi com este nome que ele declamou uma poesia na formatura realizada em 20 de julho deste ano.

Bim Oyoko é o nome artístico e político de Fabrício Tadeu Leite e foi com este nome que ele declamou uma poesia na formatura realizada em 20 de julho deste ano.

Bim Oyoko é poeta, integrante do grupo TEXAS GRIOT e ativista pelo Fórum das Juventudes da Grande BH. No último dia 8, ele puxou a intervenção Palavra Alada” na 7ª Juventude Okupa a Cidade, na pista de skate do Barreiro, em BH.

Parceria de sucesso pede continuidade

Os dois artistas se encaixam bem na avaliação feita pelo educador do Observatório e professor do curso, Rômulo Silva. “Percebemos que o curso teve uma relação direta com a inserção de alguns jovens no mercado de trabalho e para outros, o resultado foi o amadurecimento do próprio trabalho que já desenvolvem no campo da cultura, com a elevação da qualidade, melhor estruturação divulgação da ação cultural. Essas duas vertentes caminharam juntas”.

Rômulo, acompanhado por outros integrantes do Observatório, Juarez Dayrell, Warley Fabiano Santos e Carolina Abreu Albuquerque estiveram na Utramig para fechar, o que chamaram de, “circulo virtuoso”. Foram recebidos pela diretora de Qualificação e Extensão, Ester Espeschit, e pelas coordenadoras de cursos, Maria Angélica Prados, Amanda de Abreu Noronha e Ana Carolina Utsch.

Para os educadores do Observatório a experiência foi válida e deve continuar. “O curso de agente é fundamental. Tem público, tem demanda”, afirmou Carolina. “Queremos ampliar a partir da experiência concreta”, completou o pesquisador e professor Juarez.

Se depender dos alunos, a tendência também é de continuidade. O curso é de suma importância pra todas as pessoas que estão ligadas a cultura, traz diversas reflexões sobre o que é ser agente cultural e sair da bolha. Deveria ser ofertado mais vezes, se possível em vários módulos, tipo: módulo 1 – agente cultural; módulo 2 – produção cultural; módulo 3 – gestão cultural”, sugere Bim Oyoto.

Desenvolvidos nos meses de maio, junho e julho, por meio do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) os cursos de Assistente de Produção Cultural e Agente Cultural formaram 45 jovens de escola pública, em parceria com o Observatório da Juventude da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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A formatura foi realizada em 20 de julho no Centro Cultural da UFMG.

O Observatório da Juventude da UFMG é um programa de ensino, pesquisa e extensão da Faculdade de Educação (FaE), com o apoio da Pró-Reitoria de Extensão da UFMG. Criado em 2002, o OJ investiga, levanta e dissemina informações sobre a situação dos jovens da região metropolitana de Belo Horizonte. Também desenvolve ações de capacitação de jovens, de educadores e alunos dos cursos de graduação e pós-graduação da UFMG.