Utramig qualifica internas da Apac Feminina de Itaúna



Durante três meses, elas frequentaram curso de almoxarife ministrado pela Utramig e receberam o diploma nesta terça-feira

 

Rayana Karolina é mãe da pequena Madalena, que nasceu na Associação de Proteção ao Condenado – Apac Feminina de Itaúna há dois meses, e que atualmente é a única moradora do bercário da instituição. Márcia de Carvalho tem quatro filhos, o mais novo com seis anos, que moram com o pai em Divinópolis, cidade vizinha. Quando começou a cumprir sua pena, ele tinha apenas um ano de vida.

 

Como as duas, outras 15 mulheres, cada qual com seu drama, algumas já prestes a ganharem a liberdade novamente, outras ainda sob o regime fechado de prisão, viveram na terça-feira, dia 2 de agosto, momentos de alegria e emoção. Depois de três meses de curso, elas receberam o diploma de almoxarife, com o qual pretendem enfrentar o mercado na volta ao convívio social.

 

“Foi muito bacana, tanto a parte teórica como a prática. Falamos de como a mulher vive, do social, do físico, do emocional, da saúde da mulher. Tivemos uma parte sobre as marias, foi tudo importante… E aprendemos como armazenar produtos de farmácia, material de construção, as leis que regem o armazenamento, os cuidados com cada tipo de produto ou atividade”, resumiu Raissa Andrade.

 

Rayana Karolina pontuava que o curso a fez refletir sobre a maternidade: “aprendemos como a mulher é desvalorizada no mercado de trabalho e na família mesmo. Madalena é minha primeira filha, eu pensava: eu chamo minha mãe de mãe, agora tenho alguém me chamando de mãe. O curso me fez pensar sobre o que eu quero pra ela, o que espero da vida quando sair daqui”.

 

Iolanda Clenilda de Oliveira comemorava: “Aprendi coisas que não sabia, estou para ir embora e posso conseguir um emprego com o conhecimento que adquiri”. ParaJussara Soares Procópio, foi um aprendizado: “Nós podemos sair daqui e trabalhar nessa área lá fora. No começo eu não gostava, foi difícil, mas depois peguei amor ao curso e hoje eu quero trabalhar nesta área lá fora. Quero ser almoxarife”, afirmava, triunfante.

Prática, Márcia de Carvalho explicava que, durante o curso, aprendeu coisas básicas, como data de validade, condições de armazenamento. Mas também sobre direitos da mulher, “as marias… Foi superinteressante. E esse diploma que ninguém toma da gente”.

 

Márcia da Silva Rosa, decidida, garantia: “Quando eu sair quero trabalhar de almoxarife. Aprendi a separar tudo direitinho, a olhar a data de vencimento dos produtos. Aprendi também sobre meus direitos, a gente sabe sobre nossos deveres mas não sabe quase nada dos nossos direitos, o curso foi muito útil”. Outra que estava emocionada era Fabiana da Silva Pimenta, que fazia questão de contar ser aquele o seu primeiro curso: “Foi gratificante. Senti que acreditaram na gente”.

 

MULHERES MIL

Elas foram as primeiras detentas de 150 mulheres em situação de vulnerabilidade ou em regime prisional a receberem o diploma de qualificação por meio do Programa Pronatec Mulheres Mil, do Governo federal, executado em Minas pela Utramig, fundação vinculada à à Secretaria de Estado do Trabalho e Desenvolvimento Social (Sedese).

 

Nesta segunda edição do Programa no Estado, foram realizados cursos de auxiliar de cozinha, manicure e pedicure, modelista, Informática Básica, cuidadora infantil, agricultura orgânica e almoxarife. Pela primeira vez, a Utramig ministrou cursos para detentas da Associação de Proteção e Assistência ao Condenado – Apac – feminina de Itaúna e do Presídio Pio Canedo, de Pará de Minas.

As participantes frequentaram dois módulos para o aprendizado: Específico (saberes práticos da profissão em ensino) e Educacional Central (direito e saúde da mulher, empreendedorismo e economia solidária).

A diretora de Qualificação e Extensão da Utramig, Vera Victer, destacou a relevância da proposta do programa, que consegue integrar as três esferas de governo: federal, estadual e municipais. Falando às formandas, ela ressaltou que o aprendizado facilita a empregabilidade. “Sonhem, sonhem,  sonhem.  A vida de vocês pode ser transformada a partir deste momento”, afirmou.

A coordenadora nacional do Mulheres Mil, Jussara Campos, lembrou que ele nasceu em 2005, como um projeto dirigido a nordestinas. Em 2011, o Ministério da Educação (MEC) transformou-o em programa que alia o poder da educação ao direito das mulheres de terem acesso à educação profissional de qualidade e gratuita. Segundo ela, o Mulheres Mil já beneficiou 100 mil mulheres em todo o Brasil e, atualmente, um de seus focos é a mulher em privação da liberdade.

Para a presidente da Utramig, Danielle Morreale, o programa proporciona oportunidades para mulheres que, historicamente, foram esquecidas. “Com a qualificação, elas se tornam protagonistas de sua própria história”, afirma.